VIDA COM GRAÇA

domingo, 9 de agosto de 2015

FELIZ DIA DOS PAIS


Hoje quando acordei, lembrei que era Dia dos Pais, e mais um ano, estou sem o meu. Triste? Não. Jamais! Saudade? Sim e muitas!
Apesar de compreender meu pai de fato depois de sua morte, aprendi com ele muita coisa e com seu caráter, como homem, como gente, como pessoa honesta, ficou imprimido em mim... A minha divergência enquanto filho imaturo, era por questões morais e algumas vezes afetivas, porém, hoje, sei que sua irreverência era a MARCA de uma pessoa livre, sem medo, sem preconceito, sem rabo preso, sem conchavos, sem disse-me-disse... Sem religiosidade!
Ah! Meu Pai! Ele era o cara! Vivia o hoje, a vida, a circunstâncias.... Lembro-me a primeira vez que fui a escola e ele me levou – Ilha do Fundão: Escola Municipal Tenente Antonio João, próximo ao seu trabalho, e depois, me deixava ir sozinho pra que eu acostumasse a desbravar o mundo...
Suas histórias pareciam de filmes, e eu, meio que absurdado e racionalizando,
ficava pensando se era verdade, mas era: todas.
Algumas vezes eu o vi chegando em casa com a roupa rasgada e perguntava pra ele o que tinha acontecido e ele me dizia: uns caras foram me assaltar e não deixei. Sua valentia me dava medo de perdê-lo cedo demais...
Quem foi meu pai? Dizer que foi somente um herói seria desconsiderar toda sua história, até porque não foi um “pai certinho”, mas foi um Pai. Dizer que foi um “malvado” seria negar toda sua importância em minha história de vida... Então quem foi meu pai? Ah! Meu pai foi meu pai e ponto, mas nunca esquecerei sua liberdade, sua “malandragem” e sua irreverência sarcástica cheia de palavrões com pitadas de sabedoria.
Saudades, meu pai! Que eu caminhe com honestidade e saiba colher tudo o que o senhor plantou na minha vida. Te amo!

De Agnaldo Silva para Jorge Silva (In Memorian)

sábado, 1 de agosto de 2015

A INTERFACE DA LOGOTERAPIA E DA RESILIÊNCIA DIANTE DO LUTO

A INTERFACE DA LOGOTERAPIA E DA RESILIÊNCIA DIANTE DO LUTO


Agnaldo da Fonseca Silva




RESUMO
O presente artigo tem como finalidade de apresentar a interface da logoterapia, a psicoterapia de sentido, com a resiliência, no luto. Faz um paralelo da vida do Dr. Viktor Frankl com o conceito de resiliência, bem como suas nuanças e, com relação ao luto elucida tarefas sobre o manejo e o procedimento com a pessoa enlutada, diferenciando cada fase do luto e sua proposta.  Além do mais traz o desafio de considerações dentro dos conceitos de sentido e dos fatores de risco e protetores que favorecem a resiliência. Porém não há qualquer prerrogativa de fechar o assunto, pelo contrário, visa justamente ampliar os caminhos que possam propor outras interfaces e até novas considerações com relação ao assunto.



Palavras-chave: Logoterapia/sentido; resiliência e luto
Desde cedo, o mundo competitivo e globalizado provoca numa sociedade capitalista, o desejo de vencer e todas as euforias de poder, assim brotam algumas atitudes muito comuns na vida do cidadão do ocidente: vencer, ter êxito, realizar sonhos, ser feliz e de alguma forma mostrar que tem uma vida bem sucedida. Os vieses encontrados como recursos para sobreviver e para viver são muitos e, ainda que inconsciente, não há lugar para as perdas e para os fracassos. Lidar com a perda e com a falta, muito bem falada por Lacan em suas obras, é o grande desafio da humanidade. Assim, diante das defasagens que são circunstanciais na vida, provocar e promover um olhar otimista e regenerador é o diferencial que tem sido estudado, tanto pela resiliência (neste caso mais precisamente pela psicologia) como pela logoterapia. Aqui, a proposta é ver a interface dessas duas propostas e como possibilidade de enfrentamento do luto.
            “O luto tem, historicamente, sido facilitado pela família, pela igreja, em rituais de funerais e costumes sociais” diz Worden (1998) e com isso tradicionalmente tornou-se parte de uma cultura e possibilitou estudos de vários teóricos sobre o assunto e, portanto, foi colocado por Freud (1917) como um processo natural da vida humana.  

            Nessa corrida da vida, o que todo mundo de alguma maneira tenta fazer é fugir do sofrimento e do desprazer, que podem vir a se tornar sintomas (Freud; 1917) e com isso produzir um discurso doentio e prejudicial para o bem estar pessoal. Pensando em contribuir para que a vida tenha sentido, tema que deu origem a logoterapia de Viktor E. Frankl (1985) e fornecer artifícios e desejos de pesquisas nessa área, o nosso caminhar é colaborar de alguma forma a reflexão do tema e suas nuanças assim suscitadas enquanto promotores de uma saúde psíquica.

O LUTO E SUAS FASES
            Em se tratando de características existenciais num mundo pós-moderno vamos encontrar algumas variáveis muito comuns na fala do povo, soando com um tom queixoso e de lamento, tanto nos settings terapêuticos como no cotidiano: “um vazio”; “sinto-me sozinho”; “está faltando alguma coisa”; “não me realizo” dentre outras e, algumas dessas declarações vêm carregadas de sentimento dizendo: “quando eu estava com fulano era mais feliz”. Assim, lidar com o luto na vida e na clínica é o desafio, já que o mundo contemporâneo está marcado por relações não muito duradouras e, até por vezes superficiais, acentuando assim esse estado de vazio, de individualismo, de isolamento e carência afetiva.
E o que é o luto? Freud (1917) vai se referir como sendo, “de modo geral, a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como país, a liberdade ou o ideal de alguém (...)” e em outras palavras, pode ser a entendido como toda perda vivida pela pessoa durante toda sua existência e pode iniciar-se com a possibilidade da perda e tomar proporções de acordo com a realidade vivida pelo indivíduo. Já Bowby (2006) referindo-se a uma carta escrita por Freud a Binswanger fala que o estado agudo do luto passa, mas que nunca haverá um substituto ao amor perpetuado e que não há desejo de renunciá-lo. “Seja o que for que venha a preencher a lacuna e ainda que a preenchesse completamente, continuaria sendo, não obstante, uma outra coisa”. Sendo assim, os vínculos estabelecidos e construídos durante toda vida da pessoa, vão trazendo significados de valores tão pessoais, que só podem ser mensurados individualmente. O desafio encontra-se diante da demanda e, é preciso compreender as fases que constituem durante o período de luto para proporcionar insights e saber onde o paciente está diante do luto.
Worden (1998) e Bowby (2006) relatam etapas do luto sob olhares diferentes, mas que podem ser complementares, onde este usa o termo fases e aquele fala através de um prisma aconselhador e por isso, é visto como tarefas. Dentre as quatro fases reconhecidas por Bowby (2006), estão: A primeira, que é chamada de Fase do torpor ou aturdimento, consiste no momento em que a pessoa se depara com a notícia trágica. Esta por sua vez “pode durar algumas horas a uma semana e pode ser interrompida por acessos de consternação e (ou) raiva extremamente intensas”; a segunda é a fase da saudade e busca da figura perdida, que varia entre meses e até vários anos; na terceira fase encontra-se o período de desorganização e desespero e por fim na quarta fase, é o momento de buscar maior ou menor grau de reorganização. Considerando então a ótica de Worden (1998) como princípios e procedimentos do aconselhamento, destacamos aqui alguns aspetos que são relevantes diante do luto, entre eles estão: a) a realidade existente, pois embora possa ter havido de alguma de forma uma antecipação de perda, o enlutado prescinde a realidade; b) identificação e expressão do sentimento, que por vezes não há uma precisão de qual está em maior ou menor grau e, cabe destacar alguns que rigorosamente perpassam pela consciência, dentre os quais: a raiva, a culpa, a ansiedade pelo desamparo e a tristeza; c) o reposicionamento ao ambiente e (ou) ao lugar onde se caracteriza a falta da pessoa e d) a reorganização emocional para dar continuidade na vida.
Diante da temática o que vai divergir é o uso ou não de medicamentos durante uma ou mais fases do luto. Para Freud (1917) o luto não é algo patológico que possa a vir a ser submetido a tratamento médico, conseqüentemente em determinado tempo será superado, “sendo inútil ou prejudicial qualquer interferência a ele”. Todavia Worden (1998) não pensa assim, pois vai dizer que “o consenso geral é de que a medicação dever ser utilizada esparsamente e enfocando o alívio da ansiedade ou da insônia em oposição ao alívio dos sintomas depressivos.” Numa discussão entre uso ou não de drogas, o mais razoável é proporcionar, independentemente do olhar, uma possibilidade que apresente ao paciente recurso necessário para lidar com sua falta. Contudo, a perspectiva aqui é ver a interface da resiliência e da logoterapia nessa caminhada.

LOGOTERAPIA: A PSICOTERAPIA DO “SENTIDO”
            A logoterapia tem origem na trajetória vivida pelo psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor Emil Frankl, enquanto ainda bem moço manteve uma relação por cartas com Freud e discordando da teoria de que o ser humano é guiado por pulsões, resolveu então, se juntar a Adler e, logo em seguida abandona esta corrente. Doze anos após se formar em medicina (1930) é levado para o campo de concentração nazista, juntamente com a esposa, seus pais e irmãos. Neste ambiente, onde perdeu todos os seus familiares e restando-lhe apenas sua irmã, vai transformar suas experiências mais marcantes em algo de grande valor para sua obra, bem como para a sua técnica. Em sua estada em Auschwitz começa a elaborar seu método psicoterápico, tendo como laboratório a própria vida e a de seus companheiros de campo de concentração. Diante de todas as atrocidades que rodeavam o seu dia-a-dia, a citar, doenças, fome, frio, nudez, lutos dentre outras, desenvolveu o conceito chamado de otimismo trágico, que é a capacidade de encontrar esperança ainda que em meio ao caos.
Como observador e também experenciando os ocorridos, constatou que alguns lutavam para viver, enquanto outros se jogavam nas cercas eletrificadas para morrerem, numa dessas experiências lançou uma de suas máximas: “quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”.  Alavancado por esta realidade começou a traçar caminhos para a sua psicoterapia e, numa mistura de obra-vida-autor, o conceito de λόγος (lógos – radical de logoterapia) – que tem como significado “a razão de uma coisa”; segundo Pereira (1998) e de “sentido” na sua literatura. E o que é o sentido? O sentido algo que precisa ser encontrado, segundo o Dr. Frankl, e quando a consciência o faz, percebe uma Gestalt, porém, ele nos alerta do seguinte: “até o último suspiro a pessoa não sabe se ela realmente cumpriu o sentido de sua vida ou se ela apenas se enganou”, não importando também, até porque o sentido pode ser modificado, pois não está paralisado a uma situação determinada e tampouco a uma pessoa determinada, podendo ser variável de tempo em tempo e de pessoa para pessoa.

RESILIÊNCIA: A REORGANIZAÇÃO QUE SE MANIFESTA
            Originário da Física, o termo tem como conceituação - segundo Ferreira (1999) - “a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica”. Sendo utilizado a partir da década de 70 (setenta) pelo campo das Ciências da Saúde e foi ganhando espaço e familiaridade em diversas áreas. 
Usado em “estudos sobre pessoas que a despeito de terem sido submetidas a traumas agudos ou prolongados – fatores estes considerados de risco para o desenvolvimento de doenças psíquicas- não adoeciam como seria esperado”, assim o conceito foi de alguma forma evoluindo e ganhando adequações de acordo com os mais variados estudos sobre a observação e teorização do mesmo. No entanto, ao transpor o termo e utilizá-lo com relação aos seres humanos, é bom lembrar que a palavra invulnerável, mesmo sendo utilizada por alguns teóricos (Anthony & Cohler, 1987), não deve ser aplicada conceitualmente; pois de acordo com Yunes e Szymansky (2001), na resiliência o indivíduo sofre com a adversidade, pois não está imune, podendo até ficar com suas condições físicas e emocionais comprometidas, porém além de sair do problema, consegue sair fortalecido. Recupera-se do trauma sem se tornar vítima, adquirindo uma capacidade interna de tornar-se flexível diante do desconforto e encontrar um viés de superação. Como parte da resiliência, dois fatores são levados em conta, que são os de risco e proteção. No de risco estão: doenças, morte de ente, desastres, desemprego e etc. Já no de proteção temos: grupos de apoio, redes sociais, religião, entre outros e, como resultado desses dois fatores surge a resiliência como resultado.
Num construto sócio-histórico, inseridos de valores e significados culturais, onde o termo é usado, deste modo a resiliência vai sendo conceituada à medida que se agrupa as idiossincrasias pertinentes a cada um. Então, fatores de risco e proteção, podem variar de acordo com cada país e/ou região, bem como as pesquisas são um retrato desses problemas. Significado e significantes vão estar harmonizados ou não em cada pessoa, dessa forma o que pode ser enfrentado com facilidade por um, pode não ser pelo o outro, ou seja, o que é resiliente para uma determinada pessoa e/ou grupo, pode não ser para outro e vice e versa.
                       
REFLEXÕES FINAIS
            Quando se pensa nas fases do luto, e aqui mais precisamente na reorganização emocional do indivíduo enlutado, cabe-nos apreciar como profissionais da área a questão do sentido ou da resiliência - ainda que não se veja com a ótica focal de algumas correntes – é plausível avaliar esta interface na condução do processo, principalmente se o olhar estiver voltado para a questão existencial. Como vimos anteriormente, pessoas que tem um objetivo, meta, algo para que e/ou quem viver ou qualquer alvo semelhante, estão notoriamente sonhando com a vida, de outra forma, pessoas que abriram mão de algum sentido ou nem se preocuparam em encontrar, tornam-se pessimistas e desmotivadas no processo vital. A vida do Dr Frankl é uma prova real, pois mesmo diante de vários lutos, investiu em si e na vida - apesar de - e acreditando que mesmo diante de tantas privações e sentimentos entenebrecidos, havia algo que ninguém podia tirar dele e daqueles que assim acreditavam: a liberdade de assumir uma escolha alternativa diante do obstáculo. Este projetar para o futuro era o alimento para a alma que sedenta de vida. A história deste homem é exatamente o que Nietzsche (1884) expressou em sua obra “Assim falava Zaratustra”, quando se referiu ao super-homem - o homem que se supera, que se inventa no presente – que ganha internamente força psíquico-orgânica para se refazer ou aprimorar-se.
            Não obstante, os aspectos relacionados à resiliência ou de uma pessoa resiliente favorecem uma comparação ou aproximação de sentido, proposto pela logoterapia, tais como: capacidade de ter projetos, bom humor, senso de auto-eficácia, autocontrole, auto-estima, pensamento crítico, criatividade, perseverança entre outras. Portanto uma pessoa no luto necessita enxergar o sentido ou encontrar e provocar uma ação resiliente de reorganização e maturidade interna diante de um oponente, interno e/ou externo e quiçá circunstancial. No mais, o nosso desejo é provocar estudos e pesquisas que venham contribuir de alguma forma no avanço substancial, ou até mesmo questionar, o assunto aqui proposto.









Referências
http://www.contemporaneo.org.br/artigos/artigo210.pdf - Artigo intitulado: “O Vazio Existencial: de Lacan à Contemporaneidade” de Márcia Maria Luz da Silva; Venus Maria Nogueira; Dr.Vanderlei Brusch de Fraga (2009).
WORDEN, J. William – Terapia do luto: um manual para o profissional de saúde mental/J.William Worden; Trad. Max Brener e Maria Rita Hofmeister.-2.ed-Porto Alegre:Artes Médicas, 1998 (páginas 53-81)
BOWBY, John, 1907-1990. Formação e rompimento dos laços afetivos/Jonh Bowby; tradução Álvaro Cabral; revisão da tradução Luis Lorenzo Rivera. - 4ª Ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2006 – (Psicologia e pedagogia)
FREUD, Sigmund (1917) Luto e Melancolia, edição standard brasileira (vol.XIV). Rio de Janeiro: Imago, 1996
_____. Conferências e introdutórias sobre psicanálise. Os caminhos da formação dos sintomas. Conferência XXIII; 1917.
www.psicologia.com.pt – Artigo como o tema Viktor Emil Frankl: Um exemplo de resiliência, apresentado por Ana Lucia Lima; publicado em 17/09/2010
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Um psicólogo no campo de concentração. Trad. Walter Schluppp e Carlos Aveline. São Leopoldo; Petrópolis: Sinodal; Vozes, 1995
______. A presença ignorada de Deus/ Viktor E. Frankl. Traduzido por Walter O. Schlupp e Helga H. Reinhold. 10. Ed. Ver, - São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2007
PEREIRA, Isidro S.J.Dicionário Grego-Português e Português- Grego – 8ª Ed. – Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, 1998
SOUZA, Marilza Terezinha Soares de & CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira - Artigo Resiliência Psicológica: Revisão da Literatura e Análise da Produção Cientifica, Revista Interamericana de Psicologia/Interamerican Journal of Psychology – 2006, Vol. 40, Num. 1 pp. 119-126
ANTHONY, E. J. & COHLER, B. J. (1987). (Eds). The invulnerable child. New York: Guilford Press.       
FERREIRA, A. B. de H. (1999) Novo Aurélio: o dicionário do Século XXI. São Paulo: Nova Fronteira. 
YUNES, M. A. M. & SZYMANSKI, H. (2001). Resiliência: noção, conceitos afins e considerações críticas. Em: Tavares J. (Org.) Resiliência e Educação, (pp. 13-42). São Paulo: Cortez.       
NIETZSCHE, Friedrich (1884). Assim Falava Zaratustra. Tradução José Mendes de Souza; Fonte: EbooksBrasil