VIDA COM GRAÇA

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Essência e aparência são inversamente proporcionais, pois um fala do corpo (moral) e o outro fala da alma (imoral), ou seja, não se agrada a ambos. São desejos diferentes e recompensas diferentes... A essência trilha o caminho da vergonha, desprezo, humilhação ou coisa semelhante, já a aparência da glória, exaltação e poder. Não existe um equilíbrio visível, e digo isso por força das palavras de Jesus. A relação está para Verdade e Hipocrisia, são antagônicas. Quem se preocupa com uma escorrega na outra.

sábado, 19 de setembro de 2015

Por mais “Rabinos” e menos “Sacerdotes”

Por mais “Rabinos” e menos “Sacerdotes”


O escritor da carta aos Hebreus reconhece que Jesus é um (sumo) sacerdote de uma ordem “ilegal” - a de Melquisedeque e, não da legitimada pela Lei (Levita), ou seja, estava fora dos padrões religiosos de sua época.
Jesus não foi reconhecido como alguém dentro do padrão legal, mas fora... Afinal, era reconhecido como um Rabino, que apesar de não ser “legal”, era uma fonte de sabedoria para a vida... Não era visto como Sacerdote, mas como Rabino pelos religiosos e por todo povo... E a grande "crise" era por ter ensinos que tinham autoridade, mesmo não sendo uma "autoridade'.
Os livros de sabedoria da cultura judaica (Mishná e Talmud) foram inseridos por eles e ganharam prestígio, pois “qualquer judeu pode casar, enterrar ou abençoar sem a necessidade de uma autoridade”. Com o tempo o ofício do sacerdote, que era o visto legalmente, caiu em desuso.
Então, por que a Igreja Romana e depois a Protestante resgataram isso? E aqui não falo como funções, e sim como autoridades (como ofícios religiosos)...
Será que não seria um retrocesso? Por que em vez de “sacerdotes”(autoridade eclesiástica) no meio “cristão” não se cultiva o hábito de ter “rabinos”? Pois, estes são os que dão “vida” ao Livro, de uma forma equilibrada e prática, sem fazer com que a Lei seja fria e calculista... E se forem “rabinos” da Nova Aliança... Vão fazer o povo pensar e sair dos casulos religiosos... Vão dar “vida”a Vida.
Será que o modelo não alimenta um sistema corrupto e cheio de maldade pra continuar oprimindo o povo? É este mesmo sistema que será destruído (Apocalipse 18), pois nele não subsiste o Teor da Graça e nem do Evangelho, nele estão os interesses comerciais e egoístas... “Os rabinos” não se alimentam do sistema... Eles só conservam a fé do povo e resgata a essência da simplicidade da relação com Deus.
Lembrando que, sei perfeitamente do texto de Pedro, e acredito nele de que somos “sacerdócio real”(1 Pe. 2:9). E digo mais, a questão é fazer valer justamente esse texto, respeitando as funções do “Corpo”, apenas como ofício e não como autoridade, e o resgate do Rabinato entre os ditos “cristãos” é pra trazer luz, tanto a este texto, como a vários outros.
Em suma, menos autoridades religiosas e mais pensadores e mestres para a Vida.

domingo, 9 de agosto de 2015

FELIZ DIA DOS PAIS


Hoje quando acordei, lembrei que era Dia dos Pais, e mais um ano, estou sem o meu. Triste? Não. Jamais! Saudade? Sim e muitas!
Apesar de compreender meu pai de fato depois de sua morte, aprendi com ele muita coisa e com seu caráter, como homem, como gente, como pessoa honesta, ficou imprimido em mim... A minha divergência enquanto filho imaturo, era por questões morais e algumas vezes afetivas, porém, hoje, sei que sua irreverência era a MARCA de uma pessoa livre, sem medo, sem preconceito, sem rabo preso, sem conchavos, sem disse-me-disse... Sem religiosidade!
Ah! Meu Pai! Ele era o cara! Vivia o hoje, a vida, a circunstâncias.... Lembro-me a primeira vez que fui a escola e ele me levou – Ilha do Fundão: Escola Municipal Tenente Antonio João, próximo ao seu trabalho, e depois, me deixava ir sozinho pra que eu acostumasse a desbravar o mundo...
Suas histórias pareciam de filmes, e eu, meio que absurdado e racionalizando,
ficava pensando se era verdade, mas era: todas.
Algumas vezes eu o vi chegando em casa com a roupa rasgada e perguntava pra ele o que tinha acontecido e ele me dizia: uns caras foram me assaltar e não deixei. Sua valentia me dava medo de perdê-lo cedo demais...
Quem foi meu pai? Dizer que foi somente um herói seria desconsiderar toda sua história, até porque não foi um “pai certinho”, mas foi um Pai. Dizer que foi um “malvado” seria negar toda sua importância em minha história de vida... Então quem foi meu pai? Ah! Meu pai foi meu pai e ponto, mas nunca esquecerei sua liberdade, sua “malandragem” e sua irreverência sarcástica cheia de palavrões com pitadas de sabedoria.
Saudades, meu pai! Que eu caminhe com honestidade e saiba colher tudo o que o senhor plantou na minha vida. Te amo!

De Agnaldo Silva para Jorge Silva (In Memorian)

sábado, 1 de agosto de 2015

A INTERFACE DA LOGOTERAPIA E DA RESILIÊNCIA DIANTE DO LUTO

A INTERFACE DA LOGOTERAPIA E DA RESILIÊNCIA DIANTE DO LUTO


Agnaldo da Fonseca Silva




RESUMO
O presente artigo tem como finalidade de apresentar a interface da logoterapia, a psicoterapia de sentido, com a resiliência, no luto. Faz um paralelo da vida do Dr. Viktor Frankl com o conceito de resiliência, bem como suas nuanças e, com relação ao luto elucida tarefas sobre o manejo e o procedimento com a pessoa enlutada, diferenciando cada fase do luto e sua proposta.  Além do mais traz o desafio de considerações dentro dos conceitos de sentido e dos fatores de risco e protetores que favorecem a resiliência. Porém não há qualquer prerrogativa de fechar o assunto, pelo contrário, visa justamente ampliar os caminhos que possam propor outras interfaces e até novas considerações com relação ao assunto.



Palavras-chave: Logoterapia/sentido; resiliência e luto
Desde cedo, o mundo competitivo e globalizado provoca numa sociedade capitalista, o desejo de vencer e todas as euforias de poder, assim brotam algumas atitudes muito comuns na vida do cidadão do ocidente: vencer, ter êxito, realizar sonhos, ser feliz e de alguma forma mostrar que tem uma vida bem sucedida. Os vieses encontrados como recursos para sobreviver e para viver são muitos e, ainda que inconsciente, não há lugar para as perdas e para os fracassos. Lidar com a perda e com a falta, muito bem falada por Lacan em suas obras, é o grande desafio da humanidade. Assim, diante das defasagens que são circunstanciais na vida, provocar e promover um olhar otimista e regenerador é o diferencial que tem sido estudado, tanto pela resiliência (neste caso mais precisamente pela psicologia) como pela logoterapia. Aqui, a proposta é ver a interface dessas duas propostas e como possibilidade de enfrentamento do luto.
            “O luto tem, historicamente, sido facilitado pela família, pela igreja, em rituais de funerais e costumes sociais” diz Worden (1998) e com isso tradicionalmente tornou-se parte de uma cultura e possibilitou estudos de vários teóricos sobre o assunto e, portanto, foi colocado por Freud (1917) como um processo natural da vida humana.  

            Nessa corrida da vida, o que todo mundo de alguma maneira tenta fazer é fugir do sofrimento e do desprazer, que podem vir a se tornar sintomas (Freud; 1917) e com isso produzir um discurso doentio e prejudicial para o bem estar pessoal. Pensando em contribuir para que a vida tenha sentido, tema que deu origem a logoterapia de Viktor E. Frankl (1985) e fornecer artifícios e desejos de pesquisas nessa área, o nosso caminhar é colaborar de alguma forma a reflexão do tema e suas nuanças assim suscitadas enquanto promotores de uma saúde psíquica.

O LUTO E SUAS FASES
            Em se tratando de características existenciais num mundo pós-moderno vamos encontrar algumas variáveis muito comuns na fala do povo, soando com um tom queixoso e de lamento, tanto nos settings terapêuticos como no cotidiano: “um vazio”; “sinto-me sozinho”; “está faltando alguma coisa”; “não me realizo” dentre outras e, algumas dessas declarações vêm carregadas de sentimento dizendo: “quando eu estava com fulano era mais feliz”. Assim, lidar com o luto na vida e na clínica é o desafio, já que o mundo contemporâneo está marcado por relações não muito duradouras e, até por vezes superficiais, acentuando assim esse estado de vazio, de individualismo, de isolamento e carência afetiva.
E o que é o luto? Freud (1917) vai se referir como sendo, “de modo geral, a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como país, a liberdade ou o ideal de alguém (...)” e em outras palavras, pode ser a entendido como toda perda vivida pela pessoa durante toda sua existência e pode iniciar-se com a possibilidade da perda e tomar proporções de acordo com a realidade vivida pelo indivíduo. Já Bowby (2006) referindo-se a uma carta escrita por Freud a Binswanger fala que o estado agudo do luto passa, mas que nunca haverá um substituto ao amor perpetuado e que não há desejo de renunciá-lo. “Seja o que for que venha a preencher a lacuna e ainda que a preenchesse completamente, continuaria sendo, não obstante, uma outra coisa”. Sendo assim, os vínculos estabelecidos e construídos durante toda vida da pessoa, vão trazendo significados de valores tão pessoais, que só podem ser mensurados individualmente. O desafio encontra-se diante da demanda e, é preciso compreender as fases que constituem durante o período de luto para proporcionar insights e saber onde o paciente está diante do luto.
Worden (1998) e Bowby (2006) relatam etapas do luto sob olhares diferentes, mas que podem ser complementares, onde este usa o termo fases e aquele fala através de um prisma aconselhador e por isso, é visto como tarefas. Dentre as quatro fases reconhecidas por Bowby (2006), estão: A primeira, que é chamada de Fase do torpor ou aturdimento, consiste no momento em que a pessoa se depara com a notícia trágica. Esta por sua vez “pode durar algumas horas a uma semana e pode ser interrompida por acessos de consternação e (ou) raiva extremamente intensas”; a segunda é a fase da saudade e busca da figura perdida, que varia entre meses e até vários anos; na terceira fase encontra-se o período de desorganização e desespero e por fim na quarta fase, é o momento de buscar maior ou menor grau de reorganização. Considerando então a ótica de Worden (1998) como princípios e procedimentos do aconselhamento, destacamos aqui alguns aspetos que são relevantes diante do luto, entre eles estão: a) a realidade existente, pois embora possa ter havido de alguma de forma uma antecipação de perda, o enlutado prescinde a realidade; b) identificação e expressão do sentimento, que por vezes não há uma precisão de qual está em maior ou menor grau e, cabe destacar alguns que rigorosamente perpassam pela consciência, dentre os quais: a raiva, a culpa, a ansiedade pelo desamparo e a tristeza; c) o reposicionamento ao ambiente e (ou) ao lugar onde se caracteriza a falta da pessoa e d) a reorganização emocional para dar continuidade na vida.
Diante da temática o que vai divergir é o uso ou não de medicamentos durante uma ou mais fases do luto. Para Freud (1917) o luto não é algo patológico que possa a vir a ser submetido a tratamento médico, conseqüentemente em determinado tempo será superado, “sendo inútil ou prejudicial qualquer interferência a ele”. Todavia Worden (1998) não pensa assim, pois vai dizer que “o consenso geral é de que a medicação dever ser utilizada esparsamente e enfocando o alívio da ansiedade ou da insônia em oposição ao alívio dos sintomas depressivos.” Numa discussão entre uso ou não de drogas, o mais razoável é proporcionar, independentemente do olhar, uma possibilidade que apresente ao paciente recurso necessário para lidar com sua falta. Contudo, a perspectiva aqui é ver a interface da resiliência e da logoterapia nessa caminhada.

LOGOTERAPIA: A PSICOTERAPIA DO “SENTIDO”
            A logoterapia tem origem na trajetória vivida pelo psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor Emil Frankl, enquanto ainda bem moço manteve uma relação por cartas com Freud e discordando da teoria de que o ser humano é guiado por pulsões, resolveu então, se juntar a Adler e, logo em seguida abandona esta corrente. Doze anos após se formar em medicina (1930) é levado para o campo de concentração nazista, juntamente com a esposa, seus pais e irmãos. Neste ambiente, onde perdeu todos os seus familiares e restando-lhe apenas sua irmã, vai transformar suas experiências mais marcantes em algo de grande valor para sua obra, bem como para a sua técnica. Em sua estada em Auschwitz começa a elaborar seu método psicoterápico, tendo como laboratório a própria vida e a de seus companheiros de campo de concentração. Diante de todas as atrocidades que rodeavam o seu dia-a-dia, a citar, doenças, fome, frio, nudez, lutos dentre outras, desenvolveu o conceito chamado de otimismo trágico, que é a capacidade de encontrar esperança ainda que em meio ao caos.
Como observador e também experenciando os ocorridos, constatou que alguns lutavam para viver, enquanto outros se jogavam nas cercas eletrificadas para morrerem, numa dessas experiências lançou uma de suas máximas: “quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la; quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”.  Alavancado por esta realidade começou a traçar caminhos para a sua psicoterapia e, numa mistura de obra-vida-autor, o conceito de λόγος (lógos – radical de logoterapia) – que tem como significado “a razão de uma coisa”; segundo Pereira (1998) e de “sentido” na sua literatura. E o que é o sentido? O sentido algo que precisa ser encontrado, segundo o Dr. Frankl, e quando a consciência o faz, percebe uma Gestalt, porém, ele nos alerta do seguinte: “até o último suspiro a pessoa não sabe se ela realmente cumpriu o sentido de sua vida ou se ela apenas se enganou”, não importando também, até porque o sentido pode ser modificado, pois não está paralisado a uma situação determinada e tampouco a uma pessoa determinada, podendo ser variável de tempo em tempo e de pessoa para pessoa.

RESILIÊNCIA: A REORGANIZAÇÃO QUE SE MANIFESTA
            Originário da Física, o termo tem como conceituação - segundo Ferreira (1999) - “a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica”. Sendo utilizado a partir da década de 70 (setenta) pelo campo das Ciências da Saúde e foi ganhando espaço e familiaridade em diversas áreas. 
Usado em “estudos sobre pessoas que a despeito de terem sido submetidas a traumas agudos ou prolongados – fatores estes considerados de risco para o desenvolvimento de doenças psíquicas- não adoeciam como seria esperado”, assim o conceito foi de alguma forma evoluindo e ganhando adequações de acordo com os mais variados estudos sobre a observação e teorização do mesmo. No entanto, ao transpor o termo e utilizá-lo com relação aos seres humanos, é bom lembrar que a palavra invulnerável, mesmo sendo utilizada por alguns teóricos (Anthony & Cohler, 1987), não deve ser aplicada conceitualmente; pois de acordo com Yunes e Szymansky (2001), na resiliência o indivíduo sofre com a adversidade, pois não está imune, podendo até ficar com suas condições físicas e emocionais comprometidas, porém além de sair do problema, consegue sair fortalecido. Recupera-se do trauma sem se tornar vítima, adquirindo uma capacidade interna de tornar-se flexível diante do desconforto e encontrar um viés de superação. Como parte da resiliência, dois fatores são levados em conta, que são os de risco e proteção. No de risco estão: doenças, morte de ente, desastres, desemprego e etc. Já no de proteção temos: grupos de apoio, redes sociais, religião, entre outros e, como resultado desses dois fatores surge a resiliência como resultado.
Num construto sócio-histórico, inseridos de valores e significados culturais, onde o termo é usado, deste modo a resiliência vai sendo conceituada à medida que se agrupa as idiossincrasias pertinentes a cada um. Então, fatores de risco e proteção, podem variar de acordo com cada país e/ou região, bem como as pesquisas são um retrato desses problemas. Significado e significantes vão estar harmonizados ou não em cada pessoa, dessa forma o que pode ser enfrentado com facilidade por um, pode não ser pelo o outro, ou seja, o que é resiliente para uma determinada pessoa e/ou grupo, pode não ser para outro e vice e versa.
                       
REFLEXÕES FINAIS
            Quando se pensa nas fases do luto, e aqui mais precisamente na reorganização emocional do indivíduo enlutado, cabe-nos apreciar como profissionais da área a questão do sentido ou da resiliência - ainda que não se veja com a ótica focal de algumas correntes – é plausível avaliar esta interface na condução do processo, principalmente se o olhar estiver voltado para a questão existencial. Como vimos anteriormente, pessoas que tem um objetivo, meta, algo para que e/ou quem viver ou qualquer alvo semelhante, estão notoriamente sonhando com a vida, de outra forma, pessoas que abriram mão de algum sentido ou nem se preocuparam em encontrar, tornam-se pessimistas e desmotivadas no processo vital. A vida do Dr Frankl é uma prova real, pois mesmo diante de vários lutos, investiu em si e na vida - apesar de - e acreditando que mesmo diante de tantas privações e sentimentos entenebrecidos, havia algo que ninguém podia tirar dele e daqueles que assim acreditavam: a liberdade de assumir uma escolha alternativa diante do obstáculo. Este projetar para o futuro era o alimento para a alma que sedenta de vida. A história deste homem é exatamente o que Nietzsche (1884) expressou em sua obra “Assim falava Zaratustra”, quando se referiu ao super-homem - o homem que se supera, que se inventa no presente – que ganha internamente força psíquico-orgânica para se refazer ou aprimorar-se.
            Não obstante, os aspectos relacionados à resiliência ou de uma pessoa resiliente favorecem uma comparação ou aproximação de sentido, proposto pela logoterapia, tais como: capacidade de ter projetos, bom humor, senso de auto-eficácia, autocontrole, auto-estima, pensamento crítico, criatividade, perseverança entre outras. Portanto uma pessoa no luto necessita enxergar o sentido ou encontrar e provocar uma ação resiliente de reorganização e maturidade interna diante de um oponente, interno e/ou externo e quiçá circunstancial. No mais, o nosso desejo é provocar estudos e pesquisas que venham contribuir de alguma forma no avanço substancial, ou até mesmo questionar, o assunto aqui proposto.









Referências
http://www.contemporaneo.org.br/artigos/artigo210.pdf - Artigo intitulado: “O Vazio Existencial: de Lacan à Contemporaneidade” de Márcia Maria Luz da Silva; Venus Maria Nogueira; Dr.Vanderlei Brusch de Fraga (2009).
WORDEN, J. William – Terapia do luto: um manual para o profissional de saúde mental/J.William Worden; Trad. Max Brener e Maria Rita Hofmeister.-2.ed-Porto Alegre:Artes Médicas, 1998 (páginas 53-81)
BOWBY, John, 1907-1990. Formação e rompimento dos laços afetivos/Jonh Bowby; tradução Álvaro Cabral; revisão da tradução Luis Lorenzo Rivera. - 4ª Ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2006 – (Psicologia e pedagogia)
FREUD, Sigmund (1917) Luto e Melancolia, edição standard brasileira (vol.XIV). Rio de Janeiro: Imago, 1996
_____. Conferências e introdutórias sobre psicanálise. Os caminhos da formação dos sintomas. Conferência XXIII; 1917.
www.psicologia.com.pt – Artigo como o tema Viktor Emil Frankl: Um exemplo de resiliência, apresentado por Ana Lucia Lima; publicado em 17/09/2010
FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Um psicólogo no campo de concentração. Trad. Walter Schluppp e Carlos Aveline. São Leopoldo; Petrópolis: Sinodal; Vozes, 1995
______. A presença ignorada de Deus/ Viktor E. Frankl. Traduzido por Walter O. Schlupp e Helga H. Reinhold. 10. Ed. Ver, - São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2007
PEREIRA, Isidro S.J.Dicionário Grego-Português e Português- Grego – 8ª Ed. – Braga: Livraria Apostolado da Imprensa, 1998
SOUZA, Marilza Terezinha Soares de & CERVENY, Ceneide Maria de Oliveira - Artigo Resiliência Psicológica: Revisão da Literatura e Análise da Produção Cientifica, Revista Interamericana de Psicologia/Interamerican Journal of Psychology – 2006, Vol. 40, Num. 1 pp. 119-126
ANTHONY, E. J. & COHLER, B. J. (1987). (Eds). The invulnerable child. New York: Guilford Press.       
FERREIRA, A. B. de H. (1999) Novo Aurélio: o dicionário do Século XXI. São Paulo: Nova Fronteira. 
YUNES, M. A. M. & SZYMANSKI, H. (2001). Resiliência: noção, conceitos afins e considerações críticas. Em: Tavares J. (Org.) Resiliência e Educação, (pp. 13-42). São Paulo: Cortez.       
NIETZSCHE, Friedrich (1884). Assim Falava Zaratustra. Tradução José Mendes de Souza; Fonte: EbooksBrasil






terça-feira, 31 de março de 2015

AMOR PARA A PSICANÁLISE
Psychologies Magazine em outubro 2008. A entrevistadora é Hanna Waar.
Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?
Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.
P.: Então, o que é amar verdadeiramente?
J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.
P.: Por que alguns sabem amar e outros não?
J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.
P.: “Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso…
J-A Miller: Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem”. O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.
P.: Amar seria mais difícil para os homens?
J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a “degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.
P.: E nas mulheres?
J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem…
P.: Por que “cada vez mais”?
J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman (1). Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em baixa.
P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que significa?
J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação.
P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que ele? Por que ela?
J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do amor, a causa do desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que tem para cada um função determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente às neurociências, porque é próprio de cada um, tem a ver com sua história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em jogo. Freud, por exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho de luz no nariz de uma mulher!
P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor, nessas baboseiras!
J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem idéia de tudo o que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor, em bagatelas, em cabeças de alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que, sobretudo no macho, se encontram tais causas do desejo, que são como fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso. As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres. Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que fetichista : elas querem ser amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes manifesta, ou que elas supõem no outro, é sempre uma condição sine qua non para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu consentimento. O fenômeno é a base da corte masculina.
P.: O senhor atribui algum papel às fantasias?
J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais determinantes para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o inverso para os homens. Por exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a condição de se imaginar, durante o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher, ou ainda de estar ausente, em outro lugar.
P.: E a fantasia masculina?
J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo, retirado de minha prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo. Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele mesmo. Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.
P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes!
J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por antecipação, não há bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é programado como o do espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes. Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante. As modalidades do amor são ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização se distingue pela maneira como estrutura a relação entre os sexos. Ora, acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo tempo liberais, mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para o speed dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos alternativos, sucessivos, inclusive simultâneos.
P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?
J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante” (3). Entretanto, pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão? Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter para ele uma significação maternal: quanto mais sublime e intocada, mais amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem esse culto à mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é estreito. O melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato, Aristóteles.
P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as mulheres, o que os homens esperam delas…
J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe.
________________________________________________________________________________________
(1) Zygmunt Bauman, L’amour liquide, de la fragilité des liens entre les hommes (Hachette Littératures, « Pluriel », 2008)
(2) Les souffrances du jeune Werther de Goethe (LGF, « le livre de poche », 2008).
(3) Honoré de Balzac in La comédie humaine, vol. VI, « Études de mœurs : scènes de la vie parisienne » (Gallimard, 1978).

Tradução de Maria do Carmo Dias Batista.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sobre casamento e amor
   
Ed René Kivitz


”Não é bom que o homem esteja só far-lhe-ei uma companheira que lhe seja suficiente.” (Gn 2.18)

Venho me perguntando o que faz as pessoas optarem pelo casamento se contam com outras alternativas para a vida a dois. A justificativa mais comum para o casamento é o amor. Mas devemos considerar que o amor é uma experiência cuja definição está em xeque não apenas pela quantidade enorme de casais que “já não se amam mais”, como também pelo número de pessoas que se amam, mas não conseguem viver juntas.

Talvez por estas duas razões -- o amor eterno enquanto dura e o amor incompetente para a convivência -- nossa sociedade providenciou uma alternativa para suprir a necessidade afetiva das pessoas: relacionamentos temporários em detrimento do modelo indissolúvel. Mas, mesmo assim, o número de pessoas que optam pelo casamento em sua forma tradicional, do tipo “até que a morte vos separe”, cresce a cada dia.

Acredito que existe uma peça do quebra-cabeça que pode dar sentido ao quadro. Trata-se da urgente necessidade de desmistificar este conceito de amor que serve de base para a vida a dois. Afinal de contas, o que é o amor conjugal? Para muitas pessoas, o amor conjugal é confundido com a paixão. Paixão é aquela sensação arrebatadora que nos faz girar por algum tempo ao redor de uma pessoa como se ela fosse o centro do universo e a única razão pela qual vale a pena viver. Esta paixão geralmente vem acompanhada de uma atração quase irresistível para o sexo, e não raras vezes se confunde com ela. Assim, palavras como amor, paixão e tesão acabam se fundindo e tornando-se quase sinônimas.

Este conceito de amor justifica afirmações do tipo: “sem amor nenhum casamento sobrevive”, “sem paixão, nenhum relacionamento vale a pena”, “é o sexo apaixonado que dá o tempero para o casamento”.

Minha impressão é que todas estas são premissas absolutamente irreais e falsas. Deus justificou a vida entre homem e mulher afirmando que não é bom estar só. Nesse sentido, casamento tem muito pouco a ver com paixão arrebatadora e sexo alucinante. Casamento tem a ver com parceria, amizade, companheirismo, e não com experiências de êxtase. Casamento tem a ver com um lugar para voltar ao final do dia, uma mesa posta para a comunhão, um ombro na tribulação, uma força no dia da adversidade, um encorajamento no caminho das dificuldades, um colo para descansar, um alguém com celebrar a vida, a alegria e as vitórias do dia-a-dia. Casamento tem a ver com a certeza da presença no dia do fracasso e a mão estendida na noite de fraqueza e necessidade. Casamento tem a ver com ânimo, esperança, estímulo, valorização, dedicação desinteressada, solidariedade, soma de forças para construir um futuro satisfatório. Casamento tem a ver com a certeza de que existe alguém com quem podemos contar apesar de tudo e todos. A certeza de que, na pior das hipóteses e quaisquer que sejam as peças que a vida possa nos pregar, sempre teremos alguém ao lado.

Nesse sentido, não é certo dizer que sem amor nenhum casamento sobrevive, mas sim que sem casamento nenhum amor sobrevive. Não é certo dizer que sem paixão, nenhum relacionamento vale a pena, mas sim que sem relacionamento nenhuma paixão vale a pena. Não é o sexo apaixonado que dá o tempero para a vida a dois, mas a vida a dois que dá o tempero para o sexo apaixonado. Uma coisa é transar com um corpo, outra é transar com uma pessoa. Quão mais valiosa a pessoa, mais prazeroso e intenso o sexo. Quão menos valorizada a pessoa, mais banal a transa.

Assim, creio que podemos resumir a vida a dois, entre homem e mulher, idealizada por Deus, em três palavras que descrevem um casal bem-sucedido:

Um casal bem-sucedido é um par de amantes.
Um casal bem-sucedido é um par de amigos.
Um casal bem-sucedido é um par de aliados.

São três letras A que fornecem a base de uma relação duradoura. Amante se escreve com A. Amigo se escreve com A. Aliado se escreve com A. E não creio ser mera coincidência o fato de que todas as três, amante, amigo e aliado, se escrevem com A... A de amor.



• Ed René Kivitz é teólogo, com mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, e pastor presidente da Igreja Batista de Água Branca, SP. É também palestrante e escritor, e dentre suas obras mais conhecidas estão "Vivendo com propósitos" e "Outra Espiritualidade", ambas publicados pela Editora Mundo Cristão.